quarta-feira, 11 de julho de 2012

Só Deus pode me julgar.

    Assim como todo mundo, eu costumava julgar aquelas pessoas que saiam no jornal com alguma história bizarra, sem dó. E por mais trágico que seja tudo o que aconteceu comigo nos últimos dias, com certeza muita gente riu da minha cara, da merda que eu fiz.

    Desde criança eu fui fascinado pelo Santíssimo Sacramento. Além da hóstia consagrada, era a única coisa que eu achava interessante naquelas missas chatas. Que me tirava a atenção do meu mundinho.

    Eu ficava intrigado quando a coroinha tirava aquele negócio de ouro daquela espécie de cofre e toda a igreja se ajoelhava como se estivesse diante de Deus mesmo. Mas toda igreja tem um.
Sempre quis saber se aquilo era de ouro. Se fosse, devia valer uma grana.
Até alguns dias atrás, eu era obrigado a ir à missa com a minha mãe. Eu sou cético, odeio essa porra toda, mas qualquer missa é melhor do que as chantagens emocionais daquela mulher.

    Mas aquilo tudo fazia bem pra ela.
Sempre que tinha adoração do santíssimo e minha mãe ficava horas ajoelhada no chão rezando praquilo, ela voltava pra casa renovada, doce, como se tivesse feito uma sessão de massoterapia.

    Depois do rito, passava até dias sem encher meu saco dizendo que eu não faço nada por ela, que eu não sirvo pra nada, que eu devia estudar pra conseguir alguma coisa melhor. Era sempre um alívio.
Minha mãe sempre foi desequilibrada, esse meu jeito antissocial é culpa dela. Sempre me desestimulando, me riducularizando. Nem sei como, mas mesmo assim eu a amo.

    Parecia coisa de Deus. Eu fui a um terço que ela me fez ir, na igreja de sempre. Foi depois do trabalho. Minha mãe que me obrigou, claro. Haviam poucas pessoas lá, elas foram indo embora. Teve uma hora que até aquelas senhoras que tomam conta da igreja desapareceram. Foram na sacristia ou algo do tipo. O molho de chaves da igreja dando sopa naquela mesa do padre. Eu peguei, abri o cofre do Sacramento e enfiei na minha mochila, companheira de trabalho. O crime perfeito.

    Ao chegar em casa minha mãe foi logo no meu quarto, toda sorridente, perguntando onde eu tinha comprado aquilo. Na empolgação eu disse a verdade. A doida pegou um cabo de vassoura e começou a me agredir com força. Gritava que ia chamar a polícia, jogou aquele representante de deus na minha cara. No calor do momento, eu retribui a gentileza. A parte com várias estacas pontiagudas encravou como faca na cabeça dela. Claro que foi sem pensar. Foi no calor do momento.
Virou notícia, é um fato curioso, muitos riram.

"Homem mata mãe com relíquia roubada de igreja"


Quem tem boca diz o que quer, mas só Deus pode me julgar.

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